sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Despertar sensorial político (?)

Seminário sobre Arte e política

Matéria: Estética e Teoria da Arte II

Texto base: 
OITICICA, Hélio. "Esquema Geral da Nova Objetividade". Em Nova objetividade brasileira (catálogo). Rio de Janeiro: MAM, 1967.

Introdução:
Partir da ideia de Hélio Oiticica, na qual define que um despertar sensorial geraria um despertar político, isto é, criações coletivas levam o público a um posicionamento.


Durante a segunda metade da década de 60 duas possibilidades coexistiam na esfera artística brasileira: disseminação da pop e engajamento nas singularidades culturais brasileiras - desigualdade, violência, modernidade, tradição - consequências da crescente complexidade urbana do país.

Realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em abril de 1967, e organizada por um grupo de artistas e críticos de arte, a mostra 'Nova Objetividade Brasileira' reúne diferentes vertentes das vanguardas nacionais - arte concreta, neoconcretismo, nova figuração - em torno da idéia de "nova objetividade". Ou seja, uma formulação de um estado comum/típico da arte brasileira de vanguarda e não um movimento dogmático e esteticista pois possui diferentes tendências, cujas principais características são:

-> vontade construtiva geral - participam da amostra artistas recém saídos do concretismo e do neoconcretismo.
-> tendência para o objeto ao ser negado e superado a quadra de cavalete: tendência à superação dos suportes tradicionais (pintura, escultura etc.), em proveito de estruturas ambientais e objetos.
-> participação do espectador: corporal, tátil e visual.
-> tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e éticos.
-> tendência a uma arte coletiva, a participação do espectador em obras abertas e proposições variadas.
-> o ressurgimento do problema da antiarte


1) PINTURA TÁTIL - PEDRO GERALDO ESCOSTEGUY
http://www.pucrs.br/delfos/galeria/escosteguy/04.jpg
A primeira obra plástica propriamente dita com caráter participante no sentido político, foi a de Escosteguy em 1963, que, surpreendido por gestões políticas de vulto na época, criou uma espécie de relevo para ser apreendido menos pela visão e mais pelo tato (aliás, chamava-se Pintura Tátil, e teria sido então a primeira obra nesse sentido aqui — mensagem politico-social em que o espectador teria que usar as mãos como um cego para desvendá-la). A obra evoca acontecimentos trágicos, tanto por sua visualidade quanto pelas frases gravadas no relevo, como "Noite Violenta Esta".

"(...) a primeira obra plástica propriamente dita com caráter participante no sentido político foi a de Escosteguy em 1964, que, surpreendido por gestões políticas de vulto na época, criou uma espécie de relevo para ser apreendido menos pela visão e mais pelo tato (...) propõe-se ao objeto logo de saída, mas ao objeto semântico, onde impera a lei da palavra, palavra-chave, palavra-protesto, palavra onde o lado poético encerra sempre uma
mensagem-social" - Hélio Oiticica

2) FERREIRA GULLAR

Sem dúvida a obra e as idéias de Ferreira Gullar, no campo poético e técnico, são as que mais criaram nesse período, nesse sentido. -> a arte não deve se limitar ao objeto.
A proposição de Gullar que mais nos interessa é também a principal que a move: quer ele que não bastem à consciência do artista como homem atuante, somente o poder criador e a inteligência, mas que a mesmo seja um ser social, criador não só de obras, mas modificador também de consciências (no sentido amplo, coletivo), que colabore ele nessa revolução transformadora, longa e penosa, mas que algum dia terá atingido o seu fim — que o artista “participe” enfim da sua época, de seu povo.

3) EXEMPLOS: 

TROPICÁLIA - HÉLIO OITICICA

http://desconcordo.files.wordpress.com/2012/02/tropicc3a1lia-pn-2-e-pn3-1967-instal-univ-est-rj_foto-cc3a9sar-oiticica-filho.jpg
-> Tropicália é, até então, a síntese experimental de toda a obra inicial de Hélio Oiticica, e modelo de organização espacial que vai se estender até seus últimos trabalhos.
-> conjunto de tensões latentes que se escondia sob a ideia do paraíso tropical.
-> processo de "desintelectualização" = intensificação da experiência vivida.
-> Tropicália é então uma complexa, profunda e poética expressão da disfuncionalidade orgânica brasileira.
-> Tropicália é o Rio de Janeiro rearticulado por Hélio.

LUVA SENSORIAL - LYGIA CLARCK

http://www.panoramacritico.com/007/media/images/carlosalbertodias_1.jpg
-> O paradoxo proposto por Lygia Clarck: Bloquear a sensação do espectador para fazê-lo sentir. A alienação de cada indivíduo se constituiu como alienação de seu ‘corpo próprio’.


ARQUITETURA BIOLÓGICA - LYGIA CLARCK
http://www.panoramacritico.com/007/media/images/carlosalbertodias_4.jpg
->  Ligia Clark busca a construção do corpo coletivo e tem plena consciência política das consequências de sua obra, isto é tem plena consciência que sua obra pretende a reconstrução do espaço coletivo da sociedade esfacelada pela hiper-individualização.

4) QUESTIONAMENTOS:

Foi ingenuidade acreditar que um despertar sensorial trouxesse um despertar político? 

A arte é responsável por isso?

Uma reatividade do pensamento está ligada diretamente a uma atividade corporal? 

Ou será que apenas pela contemplação, dita como passiva, os espectadores podem se questionar sobre o campo sócio-político?

Quantos artistas hoje conseguem fazer isso?

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